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O SISTEMA IMUNE INATO

Atualizado: 23 de jul. de 2020

O sistema imune é composto por inúmeros tecidos, células e moléculas que, de modo ordenado e integrado, atuam na prevenção e defesa do organismo contra agentes potencialmente danosos, sejam eles constitutivos ou não.

Didaticamente, o sistema imune é divido em duas classificações: sistema imune inato e sistema imune adaptativo.

No sistema imune inato estão envolvidas barreiras físicas, como a pele e mucosas, barreiras celulares, como neutrófilos, macrófago, mastócito, eosinófilos, células dendríticas e células Natural Killer, e barreiras moleculares, como proteínas do Sistema Complemento, proteínas de fase aguda, citocinas e quimiocinas.

Nesse artigo falaremos sobre o papel principal de cada elemento da barreira física e celular na nossa imunidade.


PELE

A pele é constituída por duas camadas distintas e adjacentes. A mais externa é chamada de epiderme, composta principalmente por células epiteliais e a mais interna é chamada de derme e é composta de tecido conjuntivo e estruturas anexas especializadas, como folículo piloso e as glândulas sudoríparas (Figura 1).

A pele atua como uma barreira física que impede a entrada de micro-organismos, e auxilia diferentes tipos celulares e produtos metabólicos na defesa contra agentes patogênicos. Nossa pele é a segunda maior barreira, medindo em um adulto aproximadamente 2 m² e, devido seu contato com meio externo, é frequentemente colonizada por diversos micro-organismos.

Na epiderme, um tipo celular importante é chamado de queratinócito. Essas células especializadas formam uma multicamada de epitélio escamaso e estratificado. Além dessa barreira física, os queratinócitos liberam peptídeos antimicrobianos e diversas citocinas frente à patógenos invasores e lesões cutâneas.

Além dos queratinócitos, encontramos na epiderme outro tipo especial de células de defesa conhecidas como Células de Langerhans. Essas células formam uma densa malha entre os queratinócitos e atuam reconhecendo os chamados PAMPs (Padrões Moleculares Associados a Patógenos) e os DAMPs (Padrões Moleculares Associados a Danos), sendo a liberação de citocinas inflamatórias sua resposta a esses padrões moleculares.

Figura 1 - Representação esquemática da pele.

MUCOSA


A mucosa é maior barreira física do sistema imunitário humano e é composta pelas mucosas do trato gastrointestinal, broncopulmonar e genitourinário. Por sua extensa superfície de contato, as mucosas são a maior porta de entrada para micro-organismos e corpos estranhos em um organismo e devido a isso conta com um sistema imune especializado para sua proteção. À exemplo, tem-se a mucosa intestinal humana (intestino delgado e intestino grosso) medindo uma área de superfície total maior que 200 m², e estima-se que nela haja aproximadamente 50 x 109 linfócitos.

A imunidade inata das mucosas é em grande parte mediada pelas células epiteliais que secretam mucos, que constituem uma barreira que dificulta a entrada de micro-organismo patogênico no epitélio da mucosa.

Outros tipos celulares especializados (Células de Paneth no trato grastrointestinal e Células epiteliais respiratórias ciliadas no sistema respiratório) produzem um tipo especial de pepitídeos, chamados de Defensinas, que atuam causando efeitos tóxicos letais nos micro-organismos invasores ao se inserirem no seu interior e provocarem perda da integridade da membrana fosfolipídica externas (Figura 2).

A barreira celular do sistema imune inato é composta por células que estão presentes na circulação sanguínea e na linfa, nos órgãos linfóides e espalhados por quase todos os tecidos. Cada célula possui uma característica e função específica que as torna de fundamental importância na defesa do organismo.

Figura 2 - Representação esquemática das epitélio mucoso intestinal.

NEUTRÓFILOS


Os neutrófilos são umas das células mais abundantes entre os leucócitos circulantes, ou série branca do sangue, e fazem frente na defesa inicial contra patógenos invasores.

Também chamados de leucócitos polimorfonucleares (devido à presença de um núcleo segmentado em 3 a 5 lóbulos unidos por uma fina membrana), os neutrófilos são células esféricas com numerosas projeções membranosas (Figura 3).

Os neutrófilos são células fagocíticas que são ativadas quando seus receptores de membrana se ligam às moléculas endógenas que reconhecem e recobrem micro-organismos invasores, como por exemplo, opsoninas, Fc de IgG, C3b, e TLRs.

Eles também possuem grânulos citoplasmáticos, como defensinas, elastase neutrofílica, proteína de aumento da permeabilidade bacteriana, catepsina G e lactoferrina. Esses grânulos são liberados no meio extracelular após sua lise e possuem atividades principalmente microbicidas.

Figura 3 - Imagem e representação esquemática de um neutrófilo.

MACRÓFAGO


Originados a partir dos monócitos, os macrófagos são células teciduais e recebem denominações especiais nos diferentes tecidos onde são encontradas. Por exemplo, no sistema nervoso são chamados de células da micróglia, nos sinusoides do fígado são chamados de células de Kupffer e nos tecidos ósseos são chamados de osteoclastos.

O monócito é uma célula de 10 a 15 μm de diâmetro com núcleo em forma de feijão e citoplasma com poucos grânulos contendo lisossomos e vacúolos fagocíticos (Figura 4).

Independente da localização anatômica, a principal função dos macrófagos é ingerir e matar micro-organismo e células mortas do hospedeiro.

Os macrófagos quando ativados secretam citocinas que se ligam aos receptores presentes em outras células do sistema imune e essas respondem de forma a contribuir para a defesa do hospedeiro.

Eles também atuam na reparação dos tecidos lesionados, estimulando crescimento de novos vasos sanguíneos e estimulando a síntese de matriz extracelular rica em colágeno a partir da secreção de citocinas que atuam em várias células teciduais.

Figura 4 - Imagem e representação esquemática de um macrófago.

MASTÓCITO


Os basófilos são células que estão presentes na pele e no epitélio das mucosas e contêm grânulos citoplasmáticos em abundância compostos por citocinas, histamina e outros mediadores da imunidade inata.

Os mastócitos humanos possuem varias formas, tendo núcleo arredondando e citoplasma contendo grânulos ligados à membrana (Figura 5).

Em geral, os mastócitos não são encontrados na circulação, sendo eles mais presentes de modo constitutivo nos tecidos sadios, geralmente próximos de vasos sanguíneos e nervos. São particularmente abundantes em áreas de contato com o meio ambiente e desempenham papel primordial nas reações inflamatórias agudas.

Os mastócitos apresentam na superfície receptores para fração Fc de anticorpos IgE e IgG. Quando esses receptores são ativados pelo reconhecimento de antígenos, os mastócitos são induzidos a liberar o conteúdo dos grânulos citoplasmático para o espaço extracelular.

Essas células são importantes na defesa do organismo contra helmintos, porém também em participação nos sintomas das reações alérgicas.

Figura 5 - Imagem e representação esquemática de um mastócito.

EOSINÓFILOS


Os eosinófilos são células granulocíticas que estão presentes no sangue e atuam principalmente na defesa contra parasitas, porém também estão envolvidos nos processos alérgicos e asma (Figura 6).

Uma vez ativados, os eosinófilos induzem inflamação, mediante produção e liberação do conteúdo dos grânulos catiônicos eosinofílicos. Os principais componentes desses grânulos são: proteína básica principal, proteína catiônica eosinofílica, neurotoxina derivada de eosinófilos e peroxidase eosinofílica, que têm grande potencial citotóxico sobre parasitas, mas também podem causar lesão tecidual.

A proteína catiônica eosinofílica e a neurotoxina são ribonucleases com propriedades antivirais. A proteína básica principal apresenta toxicidade para parasitas, induz a degranulação de mastócitos e basófilos, e ativa a síntese de fatores de remodelação por células epiteliais


Figura 6 - Imagem e representação esquemática de um eosinófilo.

CÉLULAS DENDRÍTICAS


As células dendríticas são conhecidas como células apresentadoras de antígenos, pois desempenham a função de capturar, processar e apresentar antígenos peptídicos às células do sistema imune adaptativo, chamadas de Linfócitos. São consideradas uma ponte entre a imunidade inata e a adaptativa.

Elas possuem grandes projeções membranosas e capacidade fagocítica (Figura 7).

Durante sua vida útil, as células dendríticas imaturas migram da medula óssea pela corrente sanguínea, atingindo tecidos periféricos como a pele, onde se tornam residentes e passam a se chamar células de langerhans.

Uma subpopulação chamada de células dendríticas plasmocitoides são eficientes na resposta precoce contra agentes virais. Elas reconhecem o material genético dos vírus e produzem uma classe especial de proteínas solúveis chamadas de Interferon tipo I, com potente atividade contra os vírus.

Figura 7 - Imagem de uma célula dendrítica.

CÉLULAS NATURAL KILLER


As células Natural Killer (NK) constituem uma pequena população linfócitos T que fazem parte do sistema imune inato, principalmente contra micro-organismos intracelulares (Figura 8).

Sua denominação deriva do fato de que elas são capazes de eliminar células infectadas sem precisar passar pelos fenômenos de expansão clonal e diferenciação, necessário aos linfócitos efetores.

As células NK constituem de 5% a 15% das células mononucleares do sangue e do baço.

Assim como eficientes na eliminação de células infectas, as células NK também são importantes no combate e eliminação de células cancerígenas. Essa atividade baseia-se na ausência de expressão de moléculas de superfície nas células alteradas que são comumente expressas em células saudáveis.

Figura 8 - Imagem de uma célula Natural Killer.

 

RESUMO PRÁTICO PARA VOCÊ TER SEMPRE UMA FONTE DE CONSULTA SOBRE IMUNOLOGIA:


 

REFERÊNCIA


ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew HH; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. Elsevier Brasil, 2011.

CRUVINEL, Wilson de Melo et al. Sistema imunitário: Parte I. Fundamentos da imunidade inata com ênfase nos mecanismos moleculares e celulares da resposta inflamatória. Revista Brasileira de Reumatologia, 2010.


Figura 1 - GALLO, Richard L.; HOOPER, Lora V. Epithelial antimicrobial defence of the skin and intestine. Nature Reviews Immunology, v. 12, n. 7, p. 503, 2012.

Figura 2 - GALLO, Richard L.; HOOPER, Lora V. Epithelial antimicrobial defence of the skin and intestine. Nature Reviews Immunology, v. 12, n. 7, p. 503, 2012.


1 Comment


Saulo Aguiar
Saulo Aguiar
Jun 14, 2019

Ótimo texto. Parabéns

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