VOCÊ CONHECE O HTLV (VÍRUS LINTROFOTRÓPICO DE CÉLULAS T)?

O que é?

Apesar de “menos famoso” que o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, agente da AIDS), o HTLV foi o primeiro retrovírus identificado em humanos e associado ao desenvolvimento de processos oncogênicos. Porém, a relação entre os dois é tão estreita que o HIV foi considerado, a princípio, como HTLV-3.

O HTLV pertence à família Retroviridae, subfamília Orthoretrovirinae e ao gênero Deltaretrovirus. Há 4 subtipos de HTLV: HTLV-1 e HTLV-2 (envolvidos em diversas doenças humanas) e HTLV-3 e HTLV -4 (ambos com patogenicidade desconhecida).

O HTLV compartilha estrutura morfológica parecida com outros retrovírus. O vírus apresenta uma construção complexa que consiste de um envelope, um nucleocapsídeo e um nucleóide. A morfologia do vírus é de esférica a pleomórfica, medindo de 80 a 100 nm de diâmetro.

O envelope é composto de uma proteína de superfície (SU) extracelular e uma proteína transmembrana (TM) que atravessa esta estrutura e ancora a SU. Junto à membrana do envelope se encontra a proteína da matriz (MA), a proteína Gag que está adicionada de um ácido graxo e na região amino-terminal apresenta uma modificação característica de muitas proteínas que se situam na face interna da membrana celular. O capsídio (CA) de simetria icosaédrica, é composto principalmente pelas proteínas codificadas pelo gene gag, constitui o cerne da partícula viral.

Esta estrutura abriga, no seu interior, o genoma viral composto por duas fitas de RNA diméricas de polaridade positiva, às quais estão associadas a várias pequenas proteínas básicas, chamadas de proteínas do nucleocapsídio (NC). (Figura 1).

Figura 1 - Representação esquemática da partícula viral do HTLV.

Entre as diversas proteínas que compõem a estrutura viral, a transcriptase reversa (TR) e a integrase (IN) são essenciais no processo de integração do DNA proviral no genoma da célula hospedeira (Figura 2)

Figura 2 - Ciclo de multiplicação do HTLV

O que causa?

O HTLV-1 é o mais importante em termos de patogenicidade e está associado ao desenvolvimento de Linfoma/leucemia de células T do Adulto (ATL), Mielopatia associada ao HTLV/Paraparesia Espástica Tropical (HAM/TSP), desordens inflamatórias, como uveíte, síndrome de Sjögren, dermatite infecciosa, polimiosite, artropatias, tireoidite, polineuropatias, alveolite linfocitária, linfoma cutâneo de células T, estrongiloidíase, escabiose, hanseníase e tuberculose

Como se transmite?

As principais formas de transmissão do HTLV são através de uma mãe portadora para seu filho, principalmente através do aleitamento materno, durante a transfusão de sangue, por transplante de órgãos, pelo compartilhamento de seringas no uso de drogas injetáveis e através da relação sexual desprotegida (Figura 3). Devido a importância da transfusão de sangue para a transmissão, o HTLV-1 passou para lista de rastreio nos hemocentros brasileiros desde 1993, portanto, as doações de sangue são testadas antes da transfusão.

Figura 3 - Principais formas de transmissão do HTLV.

Quantas pessoas estão infectadas pelo HTLV?

Estima-se que 5 a 10 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HTLV no mundo, já no Brasil essa estimativa é de 2,5 milhões pessoas. A maioria dos indivíduos infectados (> 90%) permanece portadores assintomáticos ao longo da vida, mas são infecciosos, perpetuando a transmissão do HTLV-1.

Como prevenir?

Assim como em toda doença sexualmente transmissível, é recomendado o uso de preservativo masculino ou feminino (disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde) em todas as relações sexuais, e o não compartilhamento de seringas, agulhas ou outro objeto cortante. Da mesma forma, em caso de uma mãe HTLV-positivo, a amamentação está contraindicada (recomenda-se o uso de inibidores de lactação e de fórmulas lácteas infantis).

TAGAYA, Y.; MATSUOKA, M.; GALLO, R. 40 years of the human T-cell leukemia virus: past, present, and future. F1000Research, v. 8, 2019.

ROSADAS, C., et al. Estimation of HTLV-1 vertical transmission cases in Brazil per annum. PLoS neglected tropical diseases, v. 12, n. 11, p. e0006913, 2018.

PROIETTI, A. B. F. C. Cadernos Hemominas. HTLV. Volume XVI, 2015

BRASIL. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Infecção pelo HTLV. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/infeccao-pelo-htlv